Princípio da Semana #37

gri·tar - Dar gritos; Falar em voz muito alta; Vociferar; Chamar; Invocar; Protestar; Reclamar com a voz em grita; Berrar.

Associamos o grito e o gritar ao estar aborrecido, ao perder a calma, a razão, muitas vezes. Gritamos porque desejamos que a outra pessoa a quem se destina a nossa comunicação nos ouça. Duas pessoas gritam entre si, pois o grito serve para encurtar a distância e precisam de gritar para se conseguirem ouvir mutuamente. Quanto mais aborrecidos estivermos, mais forte teremos então de gritar. O grito tem portanto esta conotação negativa, a própria definição remete-nos a algo negativo, algo de violento até. O grito é visto como um tipo de comunicação agressiva, muito pouco, ou nada assertiva. Mas gritar é, na minha opinião, necessário. 

Gritar é uma expressão momentânea, também, de alegria, de contentamento. É ou não é verdade que gritamos quando estamos muito felizes também? Se observarmos crianças a brincar, a interagir á nossa volta, todas ela, ou quase todas gritam, entre si. E esta é uma forma de comunicação pura. Sem juízos, sem censura. As crianças gritam quando e onde lhe apetece. Como adultos e dado que vivemos em sociedade já não nos é permitido fazê-lo. É mais outro dos "direitos" que vamos perdendo ao longo do chamado crescimento e respectiva sociabilização. Mas, gritar é libertador, diria que é dos gestos mais libertadores que podemos fazer. É um exercício de liberdade, de soltar de nós coisas, sentimentos que não precisamos de carregar. Quando gritamos de dor, de medo, de perda, de ausência, de tristeza, a dor desaparece, os nossos músculos relaxam. Quando gritamos de alegria, de conquista, de felicidade, o fluxo de excitação que percorre o nosso corpo, é dos mais poderosos que existem, pois há um fluxo ascendente e descendente de igual proporção.

O gritar é um momento que não deve ser só praticado no futebol, ou em concertos, por exemplo, onde o podemos fazer porque, no fundo, ninguém nos ouve. Este é um momento nosso e só nosso, que não deve ser feito com medo, ou com a preocupação de incomodar os outros. São descargas necessárias ao nosso bem-estar e saúde mental, até. Um grito não pode ser forçado, e daí ser das manifestações mais puras e espontâneas que temos em nós, se o forçarmos sai assim um guincho que arranha a garganta e tem o efeito contrário ao que era suposto, ou seja, incomoda-nos. As tensões têm o poder de bloquear a expressão de sentimentos, e só podem ser aliviadas através dessa mesma expressão, o que muitas vezes pode e deve resultar num grito, mais ou menos alto, mas acima de tudo deve ser sentido, deve vir do fundo. 

Podemos gritar como uma criança, mas quando gritar é feito com a nossa compreensão, não nos sentimos como tal. "Os gritos podem soltar emoções reprimidas desde a infância, e a liberdade de soltar pode efectuar mudanças positivas significativas na personalidade". Um bom sítio (e deixo a sugestão) é dentro do nosso carro em movimento. Assim como cantamos alto e sabe-nos bem (quem não o faz?...), também podemos (e devemos!) gritar. Experimentem!

"Te quiero porque tu boca sabe gritar Rebeldia"- Mario Benedetti

Imagem © Direitos reservados

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